sábado, 19 de maio de 2012

Premier League 2011-2012



Obviamente que este blog não poderia deixar passar ao lado um post final da época 2011-2012 da English Premier League.

Para começar tenho que aceitar como justa a despromoção do meu Blackburn Rovers. Uma verdadeira desgraça durante a maior parte da época.

Com uns donos do clube (Venkys da India) completamente alheios da realidade do futebol inglês, e com um  treinador sem qualquer visão. E ninguém deita a mão a isto uma vez que o Steve Kean ainda lá continua e parece ser o treinador escolhido para o dificílimo Championship (segunda divisão do futebol inglês). Algo está muito mal e vivem-se dias de revolta nesta terra. Clima muito pesado.

Mas falando de coisas bem mais entusiasmantes, a Premier League 2011-2012.
Apesar de ter uma selecção que não percebe nada de bola e joga um "chuta prá frente" a Inglaterra tem mesmo algo de muito especial e único na sua liga de futebol. Há emoção, há adeptos fieis, há imprevisibilidade de resultados, há polémica, há muitos dos melhores jogadores do mundo, há praticamente tudo.

E esta época 2011-2012 foi até ao último minuto algo ímpar. Absolutamente inacreditável.

Tivemos o 6-1 do City em casa do United, tivemos o 8-2 do United ao Arsenal, 4-4 United - Everton, tivemos um Tottenham que durante uns meses jogou do futebol mais bonito que já vi, tivemos o Swansea a jogar lindo com mais de 60% de posse de bola em praticamente todos os jogos, tivemos o RVP, tivemos o David Silva, tivemos os golos do Crouch e do Cissé (!), tivemos um canto que o Pedersen marcou para ele próprio e deu golo, tivemos uma porrada de golos todas as jornadas com resultados sempre imprevisiveis (Swansea a ganhar ao City, Rovers a ganhar ao United em Old Trafford). Tivemos personagens como Balotelli, Barton, Tevez, o caso Torres, e o flop do nosso amigo Vilas-Boas etc.

Em cima de tudo isto aconteceu a última jornada com os dois rivais de Manchester com o mesmo número de pontos. Absolutamente inacreditável. Seguramente que os sismógrafos registaram um mini terramoto com epicentro em Manchester aquando do golo de Aguero.

Acho que este video do match of the day capta um pouco de tudo isto:



Foi um grande privilégio ter seguido esta época bem de perto como sócio do Blackburn Rovers e ainda com três visitas ao fabuloso estádio do City. Fiquei muito feliz com o City a campeão!

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A felicidade de quem ganha da forma que o M.City ganhou é proporcional à dor de quem perde da forma que o Man United perdeu. Bem visível no "video" que me desenrasquei a fazer.

Muito me ri eu no inicio desta semana a caminho do trabalho a ouvir a BBC Radio 1.
Pelos vistos a gala do Man United de entrega de prémios relativos à época 2011-2012 decorreu no dia seguinte ao final da Premier Legue. Uma excelente ideia caso tivessem ganho.

O Valencia, realmente um grande jogador (eu próprio o incluí na minha fantasy league durante uma parte da época) ganhou vários prémios. Mas como não fala nada de inglês cada vez que recebeu um prémio lá falou em espanhol sendo posteriormente auxiliado por um tradutor "qualificado".

À curta frase do Valencia em espanhol "recebo este prémio com o todo o meu coração e humildade" seguiu-se um verdadeiro  desabafo do tradutor. (este possivelmente sem qualquer conhecimento de espanhol, mas seguramente adepto fanático ainda completamente aziado pelo resultado do dia anterior).

PS: A ignorância do DJ da Radio1 perante a nacionalidade do jogador é sintomática da pouca cultura geográfica dos bifes. Muitos bons a nível de destinos turísticos, Benidorm, Magaluff, Kavos e afins, mas mais nada.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Ida a Portugal

Viva.

Como já tinha dado a entender no post anterior, quebramos a regra de ir a Portugal apenas uma vez por ano em Setembro e lá fomos à queima das fitas do Porto. Calhou bem que aproveitamos o feriado inglês na segunda-feira e a nossa folga semanal à quarta-feira.

Respondendo a perguntas que possam surgir fruto do post anterior, adianto já que ninguém me interpelou no sentido de me pagar um cálice de vinho do porto. Nesse cenário fomos forçados a comprar vinho do porto do nosso próprio bolso. Três garrafas de "Os Velhotes". E que pomada que provou ser, revivendo o dia do cortejo do meu ano de finalistas (e da borracheira de caixão à cova que esse dia proporcionou). Obviamente que foi estranho o sentimento de conhecer pouca da gente que por lá desfilava, apenas alguns professores e um ou outro colega da faculdade. Mesmo assim fizemos a festa, eu, a Ana, um grande amigo que está de baixa médica por stress e uma amiga que deixou o trabalho para vir ter connosco (é este je ne sais quoi de Portugal que nos faz um povo feliz) e lá conseguimos chegar aos Aliados, sempre com algumas pausas para chatear um ou outro finalista de farmácia que iam passando e lhes dar umas bengaladas nas cartolas. O meu irmão que desde o meu ano de finalistas cresceu bastante e se transformou em consumidor de bebidas alcoólicas também ia aparecendo de vez em quando para cravar vinho do porto.


Adiante. Uns dias apenas e chegou para comer francesinha, ver o Blackburn em directo a perder em casa e a descer de divisão, para cada um de nós visitar a família, conhecer a nova faculdade de farmácia (! que luxo), jantar com alguns amigos, andar pelas ruas do Porto em áreas específicas a ver imóveis para venda, ir visitar dois imóveis através de uma agência e fazer uma proposta para compra de um apartamento! (Daqui não devem surgir novidades uma vez que não subimos a parada e o vendedor não está disposto a descer 10% para atingir a nossa proposta.)


Na quarta-feira de manhã lá chegamos ao aeroporto pelas 4am para apanhar o voo Porto-Stanstead às 6 horas da matina. Parecia que tínhamos saído do filme hangover (A ressaca). Lá fui conseguindo contar à Ana o que aconteceu depois das 20h00 de terça-feira, que sozinha até descobriu o porquê da sua enorme dor de cabeça na zona da testa. Os detalhes são pouco dignificantes e por isso são propositadamente omitidos neste post.

Mas enquanto esperávamos pelo voo, e provavelmente ainda "alegres", muito nos rimos com este video que eu filmei uns dias antes aquando da minha visita à minha avó.

É engraçado a piada que achamos à desgraça alheia. Quem é que não adora o RudeTube?
No video o meu irmão deixa enquanto corre atrás da bola deixa cair o telemóvel que se desmonta em mil peças. O som do acidente é sublime. A minha avó remata com toda a naturalidade um "Zé pega a p*t@ da bola". No Minho fala-se assim.



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Vejo agora que o video não tem grande qualidade e que provavelmente até pouca piada tem para um qualquer visitante sóbrio do blog.

A ver se faço praí uns quatro posts até ao fim do mês. Boa?

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Queima das fitas

O migrant_script vai amanhã marcar presença no cortejo da queima das fitas do Porto como representante de todos os farmacêuticos emigrantes. Se o avistarem não se inibam e paguem-lhe um cálice de vinho do Porto.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Ensaio sobre crise financeira

Como gajo cheio de opinião que sou não poderia deixar passar ao lado deste blog o 1º de Maio, dia do trabalhador.

Seja nas redes sociais, seja nos noticiários na TV, seja por toda a internet, só se fala sobre um tema:

O dia 1 de Maio/Pingo Doce:

Graças ao facebook, hoje em dia, toda a gente tem opinião sobre tudo (o que é bom) e foi interessante ver posições bastante polarizadas em relação aos eventos que decorreram da promoção dos 50% no Pingo Doce.
Basicamente assistiu-se a um "Isto é que é bom, estamos em crise por isso é de aproveitar, e quem trabalhou estava a ser pago, e fê-lo por opção" vs "Isto é uma afronta contra os direitos dos trabalhadores, que provavelmente foram coagidos a trabalhar, e sobretudo associado ao simbolismo do dia 1 de Maio".

Mas acima de qualquer opinião estão factos. Alguns deles são:
- Estamos em crise. A maior parte das famílias, por necessidade, compra de forma inteligente, cada vez a compararem preços de forma mais atenta e a fazerem opções sobre uma relação preço/qualidade de acordo com a situação financeira.
- O Pingo Doce invariavelmente perdeu dinheiro com qualquer cliente que tenha usufruído da promoção dos 50%. Os supermercados nem de perto nem de longe lidam com margens acima de 50%.
- Do ponto de vista económico, e tendo em conta que os preços do Pingo Doce são competitivos, aproveitar a promoção do Pingo Doce é um acto inteligente.


Toda esta novela terá começado uns dias antes do dia do trabalhador. Surgiram movimentos a apelarem ao "não às compras" por respeito pelo "trabalhador". Ora faz sentido. É fácil de nos identificarmos com os princípios defendidos por estes movimentos. (Aqui foi possível ver opiniões contra, quase invariavelmente, vindas daqueles cujas profissões implicam trabalhar aos Domingos/feriados. O lado egoísta e invejoso do ser humano).

1 de Maio. A notícia da promoção do Pingo Doce espalha-se como fogo em mato seco. Notícias começam a reportar filas de espera enormes (acima do que qualquer um numa situação normal admitiria estar disposto a aguentar), alguns desentendimentos que em diferentes localizações levam a intervenções policiais. Há inclusivamente relatos de cenas de pancadaria que acabam em hospitalizações. Os carrinhos de compras esgotam, e surgem relatos de pessoas a "arrendar" carrinhos de compras. Stocks esgotam e lojas fecham mais cedo e nessa altura provavelmente metade dos operacionais das forças de segurança portuguesas conseguem voltar aos seus postos iniciais.


Ler, ver e ouvir sobre estes acontecimentos trouxe-me imediatamente à memória o filme "Blindness" baseado no "Ensaio sobre cegueira" de José Saramago. Filme que por sinal gostei, sobretudo pela mensagem geral, que na minha opinião é que apesar de sermos seres super inteligentes, em termos evolutivos muito distantes dos nossos parentes do reino animal,  vivemos harmoniosamente em sociedade de uma forma que aparentemente resulta de valores e princípios sólidos. Mas toda essa harmonia é mais frágil do que possamos querer crer e basta um factor de "stress" para trazer ao de cima comportamentos que nos aproximam dos demais animais.

De que lado desta confusão é que estou? De nenhum! Faz tanto sentido alguém com dificuldades financeiras submeter-se a toda a tortura deste episódio do Pingo Doce para poupar 100 ou 200€ como faz sentido alguém com possibilidades financeiras não se submeter a isso, pois o rico e o pobre têm um "factor de stress" diferente.

Sabemos que estamos em crise, e não era preciso nenhum teste adicional para o verificar, mas a Jerónimo Martins neste 1º de Maio fez um verdadeiro Ensaio sobre a crise financeira, que confirmou o que todos já sabíamos. (Digo isto no sentido em que uma situação semelhante num país financeiramente mais estável não provocaria as mesmas cenas).

Deus nos proteja de um terramoto tipo o do Haiti, pois seremos humanos da mesma forma que eles foram.

Mais uma vez refiro que concordo perfeitamente com a opção de milhares de portugueses em aproveitar a promoção dos 50%. É realmente economicamente inteligente qualquer que seja o ponto de vista. Ter a liberdade financeira para não ter ido à compras ao Pingo Doce e orgulhosamente manifestá-lo, é vaidade e fica mal.


PS: A Jerónimo Martins mostrou a força do dinheiro, sobretudo numa situação de uma sociedade com fragilidades financeiras. Todos concordamos que é bom para uma sociedade ter dias de folga em comum para momentos de lazer, de convívio com a família e amigos. Todos concordamos que poderíamos facilmente passar sem supermercados (e muitas outras actividades profissionais) abertos aos Domingos e aos feriados, mas hoje quase todos os entrevistados à saída do Pingo Doce disseram que "gostaram", que "deveriam fazer estas promoções mais vezes", "que não há mal trabalhar ao feriado como os enfermeiros nos hospitais". Aparentemente muitos funcionários que trabalharam disseram que gostaram de o fazer, e que o "dinheiro extra veio mesmo a calhar". Muito provavelmente, qual fenómeno de Pavlov, no próximo dia 1 de Maio teremos filas à porta do Pingo Doce bem antes do horário de abertura. (independentemente de qualquer rumor sobre qualquer promoção do género). E assim os trabalhadores vão perdendo aos poucos os seus direitos.

Podemos criticar qualquer das posições observadas? Volto a dizer que não. Mas é uma autêntica delícia observar do ponto de vista sociológico os vários comportamentos, as várias opiniões polarizadas e toda a celeuma que gerou.